quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O bixo


Saí do metrô Santa Cruz e deparei com seres irreconhecíveis. Eram cinco ou seis pessoas pintadas de preto da cabeça aos pés. Busquei logo alguma identificação para saber de onde eles vinham. Ou melhor, para onde eles iam. Um me olhou mas se direcionou a outra pessoa na rua. Outro veio se aproximando e pedindo uma contribuição para o bixo. Ao mesmo tempo que perguntei onde ele havia passado, li em sua camiseta: “Unifesp – Medicina”, junto com sua resposta. Cacei algum trocado em meu bolso e achei um real. Fosse em 2004, quando o pintado era eu, teria comemorado frente a tantos 10 centavos que recebia. O bixo agradeceu e logo partiu buscando mais moedas.

Entrei rapidamente no shopping para pegar um sorvete. Precisei falar um pouco alto para que o atendente me ouvisse. Lá fora, a bateria da universidade tocava aquele ritmo que tocam todas as baterias. Tava massa! Enquanto esperava o sorvete, ritmava a bateria com o pé.

Saí do shopping e no caminho até minha casa voltei a lembrar de 2004. Do quanto havia esperado para estar em uma universidade pública, embora nunca houvesse imaginado que fosse a UNICAMP (o vestibular totalmente dissertativo era intimidante), e com uma dúvida danada do que viria dali em diante. Era uma dúvida boa, diferente daquela dúvida-quase-medo-pré-vestibular.

Foram 5 anos por lá, mas no caminho de casa recordei apenas da primeira semana, da calourada. Lembro de muita tinta, de um bandeijão ensandecido, de comer apenas com a faca, de buscar suco para os veteranos, levantar um poste, uma peregrinação pelas repúblicas, muita cerveja, pinga, gincana, samba, rock, samba-rock, pedágio, palitos verdes, choppada, pessoas novas, casa nova, mais pessoas novas...

Foi a primeira semana de 5 anos que viriam em Barão Geraldo!



terça-feira, 3 de julho de 2012

Segundas e quintas


Para garotos em idade escolar, as segundas e quintas-feiras podem se tornar um pesadelo de acordo com o resultado de seus times no dia anterior. Na vitória tudo é mais simples, mas na derrota a coisa se complica.

A zoação pelo jogo perdido geralmente vem acompanhada por réplicas de seu perdedor. São verdadeiras desculpas, frequentemente esfarrapadas, que insistem em argumentar uma má atuação do juiz e vários “e se...”. Não há muito mais o que fazer a não ser se lamentar e esperar para que o troco seja dado em uma próxima oportunidade.

Como bom corinthiano que sou, sempre morando no estado de SP, era natural que a zoação viesse de palmeirenses e são paulinos. Os santistas haviam ficado distantes, ainda vivendo naquele passado monárquico.

Ainda que hoje a zoação se perpetue entre amigos, na rua e no trabalho, ela parece não encontrar aquele ar de “hostilidade” que se via na escola.

Por uma ironia do destino, recentemente fui tomado por esse tal “medo do dia seguinte”, mais precisamente de uma quinta-feira. E o nosso adversário era justamente aquele que não se fez tão presente nos tempos de colégio: o Santos.

A coroa do rei foi tomada por um cabelo esquisito. Tão esquisito quanto essa sensação que eu já não tinha há muito tempo. É um temor pela derrota e pela suas consequências. Um misto de raiva e vergonha, de vergonha e raiva. Uma má vontade de frequentar as redes sociais (talvez a nova escola?) e de botar o pé na rua. Uma breve vontade de sumir!

Havíamos feito o primeiro jogo da semifinal da Libertadores na Vila. Seria até natural que por lá a coroa do rei se alojasse por cima do cabelo esquisito e voltássemos pra casa com uma derrota. Bastava não perder feio, tentar fazer um gol e retomar a vantagem no jogo de volta. Foi exatamente assim, só que ao contrário: em Santos, ganhamos do time da casa!

O segundo jogo será no Pacaembu. Nossa eterna e futura velha casa. Tínhamos a vantagem e aguardaríamos 7 dias por esse momento. Aliás, já que o assunto é Corinthians e Santos, sete é um bom número.

E nesses 7 dias o temor foi grande. Embora a vantagem fosse nossa, eu tinha a sensação de que a classificação poderia escapar a qualquer momento. E na medida que isso aumentava eu me lembrava dos tempos de escola. Risadas, piadas, desfile de camisas alviverdes e tricolores, desenhos em lousas e carteiras, trocadilhos infames e todo tipo de pesadelo que um garoto apaixonado por futebol pode passar.

Era quase engraçado sentir isso novamente. Quase divertido. Quase apavorante. Um tanto quanto nostálgico. E ficou melhor ainda ao final do jogo. Empate com gosto de vitória e a classificação veio. Estávamos na final. O quase sumiu. Tudo passou a ser de fato engraçado, divertido e nada apavorante. Mas ainda nostálgico. O dia seguinte seria nosso. A quinta-feira seria minha!